top of page

Despertando emoções positivas através da Meditação dos Corações Gêmeos. Você já ouviu falar nessa modalidade de meditação?

Tainá Biazus

29 de Outubro de 2019

Diversas pesquisas já atestaram benefícios da meditação mindfulness, porém os impactos de outros modos de meditação, tal como a Twin Hearts Meditation (ou Corações Gêmeos, em português), não são tão bem conhecidos pela comunidade científica. Inspirados por este problema, um grupo de pesquisadores da Universidade Presbiteriana Mackenzie resolveu comparar a prática de meditação mindfulness e a meditação conhecida como Corações Gêmeos.

Como mencionado pelos autores do estudo, a prática regular de meditação mindfulness pode proporcionar melhoras na capacidade de regulação emocional e oferecer benefícios para o funcionamento cognitivo, tal como foco atencional. Uma das principais características desta modalidade de meditação é desenvolver a capacidade de voltar a atenção para o momento presente, sem julgamento e com aceitação.

O estudo comparou duas modalidades de meditação, uma conhecida como mindfulness, e a segunda focada na atenção para emoções positivas, a Twin Hearts Meditation (THM). Para realizar esta pesquisa, os pesquisadores recrutaram 90 participantes, com idades entre 18 e 35 anos, sem experiência prévia com meditação. Foram excluídos indivíduos com histórico de desordem neuropsiquiátrica, assim como histórico de dependência de álcool e outras drogas.

Os participantes foram distribuídos aleatoriamente em três grupos de 30 indivíduos. Um grupo praticou a meditação THM (G1), o segundo grupo foi submetido à prática da meditação mindfulness (G2), enquanto o terceiro grupo (G3) constituiu o grupo controle (sem prática de meditação).

Na primeira etapa da pesquisa, todos os participantes foram recebidos no laboratório individualmente e responderam cinco questionários, sendo estes: Questionário de Regulação Emocional, Inventário de Ansiedade de Beck, Inventário de Depressão de Beck, Escala de Afeto Positivo/Negativo (PANAS) e a Philadelphia Mindfulness Scale. Estas escalas foram usadas com objetivo de mapear e controlar possíveis diferenças de linha de base entre os grupos.

Na segunda etapa (a qual ocorreu logo em seguida, ainda no mesmo dia), cada participante realizou sua respectiva intervenção com meditação:

G1 (meditação THM): uma prática meditativa de 27 minutos, guiada por um áudio instrucional. Os participantes foram orientados a desejar sentimentos positivos para a terra e toda humanidade. Também orientou-se à visualizar a terra em sua frente, posicionar as mãos sobre ela e repetir frases positivas. Em resumo, esta meditação foi direcionada para exercícios de gratidão.
 

G2 (meditação mindfulness): de modo similar ao G1, esta prática meditativa também foi guiada por um áudio, porém de 20 minutos. As orientações foram para direcionar a atenção para os próprios pensamentos, percebendo e aceitando suas variações. Trata-se de uma prática de observar pensamentos, sem reagir ou ser afetado por eles.

 

G3 (grupo controle): este grupo foi orientado a permanecer em repouso por 20 minutos. Os participantes não puderam realizar nenhuma atividade, tal como checar o smartphone.

Na terceira etapa (logo após a intervenção com meditação) os participantes completaram a escala PANAS pela segunda vez e foram posicionados em frente um computador para responder a Tarefa de Regulação da Emoção. Enquanto respondiam esta tarefa, realizou-se o registro da frequência cardíaca por meio de eletrocardiograma. Nesta avaliação de regulação emocional foram selecionadas 48 figuras do International Affective Picture System (IAPS), sendo 16 imagens de valência positiva, 16 de valência negativa e 16 neutras. Os participantes observaram uma sequência pseudo-randomizada com as imagens emocionais do IAPS, em que tinham que responder aos três tipos de imagens (positivas, neutras e negativas) a partir do uso de três diferentes estratégias de regulação emocional, de modo pseudoaleatório: estratégia de reavaliação cognitiva, estratégia de distração e estratégia de sustentação (ou observação passiva). Estas estratégias são descritas a seguir.

Estratégia de reavaliação cognitiva

Cada trial iniciava com uma cruz para fixação do olhar (3000 ms). Em seguida o participante observava uma imagem na tela (1000 ms). Em seguida a mesma imagem permanecia na tela, porém com uma informação sobrepondo-a (como uma marca d'água) instruindo como reavaliar o conteúdo da imagem (1000 ms): diminuir ou aumentar. Por fim, a orientação some da tela, permanecendo apenas a imagem novamente (5000 ms).

Quando a palavra “diminuir” aparecia, os participantes eram orientados a diminuírem a excitação emocional em resposta à imagem logo após a apresentação da mesma. Sugeriu-se que o participante pensasse que a situação representada pela imagem era uma situação passageira que diminuiria de intensidade (chamada down-regulation). Se a palavra que aparecesse na tela fosse "aumentar", o participante deveria aumentar sua excitação emocional, imaginando a situação da imagem de forma intensa (chamada up-regulation). É importante notar que a down-regulation foi apresentada apenas em trials com imagens de valência negativa, assim como a up-regulation foi exercitada apenas diante de imagens positivas. A intensão dos autores era aumentar o impacto de situações positivas, assim como diminuir o impacto de imagens negativas.

Estratégia de distração

Na estratégia de distração, o participante observava cada imagem (1000 ms), seguida da apresentação da imagem com uma marca d'água contendo um cálculo matemático (6000 ms). O objetivo era que o participante observasse o cálculo enquanto a imagem permanecesse na tela, tendo que responder se a resposta do cálculo estava correta (digitar letra c) ou incorreta (digitar letra i).

Estratégia de sustentação

Esta parte da avaliação foi caracterizada pela observação passiva das imagens. Primeiramente, cada imagem foi apresentada na tela (1000 ms), seguida por uma tela com a palavra “Look” (1000 ms) e novamente apareceia apenas imagem inicial (5000 ms). Os participantes foram orientados a observar as imagens sem julgá-las, com uma perspectiva positiva ou negativa.

Após cada trial (7000 ms), independentemente da estratégia, os participantes deveriam avaliar a valência e excitação (arousal, em inglês) de cada imagem, utilizando o Self-Assessment Manikin (Figura 1). Todos os participantes responderam 128 imagens. Durante trials com imagens neutras, apenas estratégias de distração e sustentação foram utilizadas. Toda a tarefa experimental durou aproximadamente 35 min.

Figura 2: Estrutura de um trial na Tarefa de Regulação Emocional

(adaptado de Valim, Marques e Boggio, 2019).

Por fim, os participantes completaram a escala PANAS pela terceira vez. Todos os participantes receberam créditos universitários por sua participação. Todo o procedimento de pesquisa levou aproximadamente 2 horas.

Os resultados demonstraram uma maior eficácia da THM em suprimir a valência negativa das imagens negativas e amplificar a valência das positivas. Nenhum efeito de meditação foi observado para o ECG. As descobertas indicam que a meditação contemplativa (THM) pode influenciar positivamente a capacidade de regulação emocional, mesmo quando realizada por não meditadores e apenas uma vez.

Mediante o exposto, entende-se a necessidade de produzir maiores evidências acerca dos benefícios do THM e do seu papel na aplicação em contextos emocionais. São raros os estudos que investigam esta modalidade, especialmente em relação à diminuição de emoções desagradáveis e a sintomas relacionados ao estresse e à ansiedade. Além disso, as pesquisas carecem de dados sobre os efeitos de média e longa duração que essa prática pode produzir nas funções cognitivas e afetivas. Necessita-se discussão sobre as particularidades dessa técnica e aos contextos clínicos aos quais ela poderia estar atrelada.

taina.jpg

Para refletir...

Implicações

Ainda existem poucos estudos a respeito da meditação dos corações gêmeos. Mesmo que essa meditação seja pouco conhecida e não possua literatura científica, seu processo se assemelha a outras meditações mais populares como loving-kindness meditation.  O fato de que esta meditação produziu efeitos significativos em comparação à meditação mindfulness, recomenda-se que mais estudos sejam conduzidos com diferentes tipos de meditação, a fim de avaliar quais tipos são mais benéficos para quais desfechos emocionais.

Limitações da pesquisa

Algumas limitações devem ser consideradas:

Uma limitação do estudo está relacionada as diferenças entre os áudios da meditação. A intervenção THM teve 27 minutos de duração com música de fundo, enquanto a mindfulness durou 20 minutos e nenhuma música foi utilizada. Essas diferenças podem ter influenciado nos resultados do estudo. Além disso, os próprios pesquisadores salientam que seria importante levar em consideração metodologias que permitam comparar
os efeitos de práticas de curto e longo prazo, já que no presente estudo foi avaliado o efeito de uma única prática de pessoas inexperientes.

Materiais Complementares

Ficou curioso sobre a Twin Hearts Meditation?

Clique aqui para assistir um breve vídeo para entender um pouco sobre o propósito desta prática.

 

Para conhecer outros materiais complementares, clique aqui!

Como citar este texto:

 

Biazus, T. (2019). Despertando emoções positivas através da Meditação dos Corações Gêmeos. Você já ouviu falar nessa modalidade de meditação? (Website Alfabetização Científica em Psicologia). Recuperado de: 

https://alfabetizacaopsico.wixsite.com/home/materia-7-meditacao

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Referência:

O artigo A Positive Emotional-Based Meditation but Not Mindfulness-Based Meditation Improves Emotion Regulation, de Valim, Marques & Boggio (2019), pode ser lido na revista Frontiers in Psychology  clicando aqui. 

bottom of page