top of page

Você já se perguntou quais as consequências da ansiedade na adolescência? Quais as diferenças entre adolescentes ansiosos e não ansiosos? Ou de que modo a ansiedade se relaciona com a habilidade de reconhecimento de expressões faciais?

Um estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul procurou responder a estas questões. Em particular, teve como objetivo comparar a habilidade de reconhecer expressões faciais afetivas de adolescentes diagnosticados recentemente com transtornos de ansiedade (TAs) em comparação com adolescentes sem o transtorno.

Para os pesquisadores do estudo, os TAs consistem na presença do medo em resposta a diferentes estímulos e situações, estando associados a dificuldades no relacionamento social. Eles salientam que estes transtornos geralmente têm um início precoce e um curso crônico que afeta os meios pessoais, sociais e acadêmicos de crianças e adolescentes. E qual a relação disto com a habilidade de reconhecimento de expressões faciais emocionais?

Os autores desta pesquisa acreditam, com base em outros estudos já realizados com esta população, que a ansiedade pediátrica está associada à dificuldades de reconhecimento de expressões faciais emocionais positivas (ex: alegria), negativas (ex: tristeza) e emoções ambivalentes (ex: nojo). Eles também salientam que não há um consenso entre os estudos existentes quanto à metodologia utilizada para alcançar os resultados e quanto às características dos participantes (tipos de transtornos de ansiedade, idade e contexto socioeconômico). Portanto, pesquisar a relação entre os TAs e a habilidade de reconhecimento de expressões faciais emocionais torna-se relevante, na medida em que fornece dados para novos trabalhos, para a criação de políticas públicas de prevenção e tratamento dos transtornos de ansiedade e sugere novos métodos para o estudo desta temática.

Para realizar este estudo, os pesquisadores selecionaram 68 adolescentes entre 10 e 17 anos, sendo 41 com algum transtorno de ansiedade e 27 sem nenhum transtorno. Os adolescentes foram selecionados por meio do K-SADS-PL, um instrumento de entrevista diagnóstica de transtornos de ansiedade e esquizofrenia, que foi realizado com os pais e com os adolescentes e conduzido por psiquiatras treinados. Foram incluídos na pesquisa participantes com Transtorno de Ansiedade Social, Transtorno de Ansiedade Generalizada, Transtorno de  Ansiedade de Separação e Transtorno de Pânico, todos conforme a classificação do DSM-IV, vigente no ano de publicação deste estudo (atualmente utiliza-se a classificação do DSM-V). Os participantes com TA também não poderiam estar usando alguma medicação para tratamento, pois segundo os pesquisadores o uso de medicamentos pode interferir na habilidade de reconhecimento de expressões faciais emocionais. Adolescentes que apresentassem doença clínica significativa, histórico de transtornos bipolar, transtorno invasivo do desenvolvimento, transtornos psicóticos ou suspeita de retardo mental foram excluídos da amostra do estudo.

Após esta etapa, os pesquisadores dividiram os adolescentes em dois grupos: com transtornos de ansiedade (41 pessoas) e sem transtornos (27 pessoas). Cada participante dos dois grupos foi submetido individualmente a uma tarefa computadorizada de reconhecimento de expressões faciais emocionais. A tarefa utilizava 42 imagens do banco de dados do Pictures of Facial Affect (POFA), um banco com 110 imagens em preto e branco de 16 modelos caucasianos fotografados com a face neutra e também expressando as seis emoções básicas (alegria, tristeza, raiva, medo, surpresa e nojo) em diferentes intensidades. Cada imagem selecionada para a tarefa aparecia de forma aleatória em uma tela de computador por um intervalo de 10s. Em seguida, os participantes tinham 8s para identificar e selecionar um comando na tela para a emoção correspondente. Nesta etapa, apareciam os comandos para 6 opções de emoções básicas e opções neutras.

Os resultados encontrados pela pesquisa sugerem a confirmação da hipótese de que os TAs influenciam na habilidade de reconhecimento de expressões faciais na adolescência, pois os adolescentes com a presença de algum TA tiveram mais dificuldades para reconhecer expressões de raiva e surpresa do que outras emoções, se comparados ao grupo de participantes sem o transtorno. Também foi constatado um maior número de identificações corretas da expressão neutra em sujeitos com TA, sendo que quando cometiam erros na identificação da expressão neutra, esta costumou ser confundida com expressões de tristeza.

Entretanto, os pesquisadores salientam que estes resultados diferem da literatura sobre o tema, a qual indica uma maior quantidade de erros para o reconhecimento de expressões neutras nos sujeitos com TA (sendo estas geralmente identificadas como tristeza ou alegria). Para os autores deste estudo, estas diferenças ocorreram devido às diferenças na quantidade de participantes dos estudos, ao uso de outros métodos e à inclusão de outros transtornos.

Os achados deste estudo sugerem a existência de uma relação entre TAs e a habilidade de reconhecimento de expressões faciais emocionais, que podem levar a uma má interpretação de pistas sociais e consequente dificuldades de relacionamentos interpessoais na infância e na adolescência.

Para refletir...

Implicações

Este estudo tem como diferencial o seu método, pois foi um dos primeiros a pesquisar esta temática com pessoas diagnosticadas e não medicadas, comparando-as com um grupo controle. Também destaca-se a escolha por uma etapa específica do desenvolvimento, a adolescência – muitos estudos sobre ansiedade não determinam uma faixa etária alvo e acabam por incluir participantes com diferentes níveis de maturidade cognitiva (ex: crianças pequenas e adolescentes). Desta forma, os resultados obtidos têm uma maior credibilidade no ambiente acadêmico.

 

Seus resultados indicam a necessidade de se realizarem novas pesquisas, bem como a necessidade de criação de políticas públicas para o público adolescente que trabalhem a prevenção e o tratamento de TA. Também apontam a relação existente entre a habilidade de reconhecimento de expressões faciais emocionais e o bem-estar do adolescente, visto que há um maior índice de problemas de relacionamentos interpessoais e desempenho acadêmico em adolescentes com dificuldades no reconhecimento de expressões faciais.

Limitações da pesquisa

Algumas limitações devem ser consideradas:


1. Dentre as limitações, há o número de participantes em cada grupo. Participaram de um grupo 41 pessoas e 27 de outro, ou seja, um pouco mais do que a metade do primeiro. Também não houve, dentro do grupo dos participantes com TA, igualdade de membros com cada tipo de TA (ex: 2 para Síndrome do Pânico, 2 para Ansiedade de separação, etc). Isto dificulta a representatividade dos resultados para a população com estes transtornos.

 

2. Outra limitação é em relação à tarefa computadorizada, que não especifica o software utilizado e nem a forma para classificação das emoções (folha de resposta ou registro no computador), prejudicando a replicação deste estudo por outros pesquisadores.

Materiais Complementares

Algumas vezes, o tratamento para ansiedade acompanhado por profissionais, com uso de medicação ou não, é insuficiente para lidar com a ansiedade do adolescente, que pode ou não apresentar crises de ansiedade no seu dia-a-dia. Em virtude disto, psicólogos, psiquiatras e cientistas desenvolveram aplicativos para celular específicos para este público, com o objetivo de auxiliar no tratamento da ansiedade. No Brasil, entre os mais utilizados encontram-se o “MindShift” e o “Querida Ansiedade”, disponíveis no Google Play para celulares Android e Iphones.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MindShift

Criado pela ONG AnxietyBC em colaboração com o British Columbia Children's Hospital, no Canadá, o aplicativo tem como público-alvo pré-adolescentes e adolescentes.

O MindShift fornece explicações acessíveis sobre o que é a ansiedade e dicas de como lidar com ela. Em sua plataforma, oferece desde um diário para o adolescente “desabafar” até conselhos e inspirações dentro do app. O aplicativo é gratuito e está disponível somente  em inglês.

 

 

 

Querida Ansiedade

Esse aplicativo foi desenvolvido por uma psicóloga com o objetivo de informar, esclarecer e proporcionar formas mais saudáveis de conviver com a ansiedade.

 

A plataforma promete ao usuário que ele entenda o funcionamento da doença, observe como ela se manifesta em si, como ela afeta o seu dia a dia, identifique situações que o deixam ansioso e, principalmente, aprenda formas de reduzi-la em situações futuras. O aplicativo é gratuito e está disponível em Português.

Para conhecer outros materiais complementares, clique aqui!

Como citar este texto:

 

Loos, V. N. (2017). Que emoção é essa? Dificuldades de reconhecimento de expressões faciais na adolescência em sujeitos ansiosos e não ansiosos (Website Alfabetização Científica em Psicologia). Recuperado de: http://alfabetizacaopsico.wixsite.com/home/materia-4-3

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Referência:

O artigo Anxiety disorders in adolescence are associated with impaired facial expression recognition to negative valence, de Jarros e colaboradores (2012), pode ser lido na revista Journal of psychiatric research clicando aqui. 

bottom of page