
Os benefícios da prática de Yoga na redução dos sintomas de ansiedade
Aline de Lellis
24 de Setembro de 2019
Você já ouviu falar que as práticas de yoga reduzem a ansiedade? Já parou para pensar sobre os benefícios desta prática? Qual a relação que pode haver entre yoga, habilidades de mindfulness e ansiedade?
Na busca de responder essas questões, Boni e colaboradores desenvolveram uma pesquisa buscando identificar quais são os mecanismos de mediação na redução da ansiedade em praticantes de yoga. O estudo foi realizado pela Universidade Curtin, na Austrália, e publicado em 2018 pela revista Complementary Therapies in Medicine.
Inicialmente os autores apresentaram a história e filosofia do yoga, destacando que o objetivo da prática de yoga é “unir” o corpo e mente através de aspectos mentais e físicos, a fim de reduzir o sofrimento humano.
A pesquisa de Boni e colaboradores teve como objetivo explorar os fatores que possam mediar a relação entre yoga e ansiedade a fim de elucidar os mecanismos potenciais de mudança que a prática desenvolve. A hipótese dos autores era de que a prática de yoga estaria associada à redução da evitação do afeto negativo, dado seu foco na aceitação experiencial e consciência da experiência focada no presente, incluindo emoções negativas.
O estudo correlacional foi realizado com 367 participantes (59 homens), com idades variando de 19 a 66 anos, sendo a média de idade 43 anos. Da amostra total, 301 eram praticantes de yoga e 66 eram não praticantes. Em relação aos tipos de práticas, 47,2% eram praticantes de Ashtanga Yoga, 3% de Yin Yoga, 27,9% de Vinyasa, 1,7% de Iyengar e 0,3% praticavam outros tipos de yoga.
Para avaliar ansiedade, a Subescala de Estresse Ansiedade e Depressão-21 (DASS) foi utilizada, a qual consiste em 21 itens que medem a depressão, ansiedade e estresse no período da semana passada. Para medir a evitação foi utilizada a escala de Evitação Cognitiva de 31 itens (CBAS). A atenção plena foi medida utilizando o Questionário Mindfulness de Cinco Faces de 39 itens (FFMQ), com o objetivo de medir as 5 facetas de mindfulness (habilidades de mindfulness), incluindo observação, descrição, consciência, não julgamento e não reatividade. A pesquisa contou ainda com um questionário sobre o tipo de prática, frequência e informações sobre os anos, ou meses que praticavam.
A partir dos dados coletados e das análises estatísticas realizadas, foi possível verificar que a quantidade de prática de yoga foi negativamente correlacionada à ansiedade nos praticantes, ou seja, quanto maior o tempo de prática, menores os índices de ansiedade.
Também foi observado que menores índices de evitação cognitiva e maiores escores nas habilidades de mindfulness mediaram a relação entre o tempo de prática de yoga e a ansiedade. Um Teste Sobel indicou que o efeito indireto no modelo foi significativo ao usar a evitação cognitiva e mindfulness (faceta de não julgar experiências) como mediadores.
Com esses resultados, Boni e colaboradores discutem que um maior tempo de prática de yoga parece estar associado com uma menor ansiedade. Ainda segundo os autores, esses resultados podem sugerir que pessoas que tendem a fazer mais julgamentos de respostas emocionais como inadequadas, tentando suprimir os pensamentos provocados por elas, tornam-se mais propensas a desenvolver emoções negativas, tal como ansiedade. Em contraste, aquelas que reconhecem e aceitam as experiências internas tendem a diminuir os níveis de evitação, tendo uma melhor resposta emocional, caracterizada por menos ansiedade.
Com isso, os autores concluem que os dados indicam um efeito benéfico das práticas de yoga e sugerem que tais práticas podem vir a ser um complemento às terapias de redução de ansiedade. Ainda segundo os autores, ensaios clínicos randomizados e o exame dos componentes ativos das intervenções com a prática de yoga são necessários para melhor investigar os benefícios gerados.
Para refletir...
Implicações
A principal contribuição desta pesquisa está em elucidar as evidências de que a prática de yoga pode ser uma alternativa para ajudar na redução dos sintomas de ansiedade. Além disso, esta pesquisa ajuda a entender que uma das influências do yoga sobre a redução da ansiedade pode ser devido ao aumento das habilidades de mindfulness, em particular, a capacidade de não julgar as experiências internas. Assim, é possível considerar que a prática de yoga pode ser uma ferramenta para tratamentos psicológicos de manejo da ansiedade.
Os resultados do estudo também reforçam a necessidade de futuras pesquisas experimentais e longitudinais, para que seja possível examinar a relação causal entre as habilidades de mindfulness e a evitação, já que a pesquisa relatada não utilizou um delineamento experimental e por isso não pode afirmar relações de causa e efeito, apenas sugerir que houve uma relação.
Limitações da pesquisa
Algumas limitações devem ser consideradas:
1. O desenho transversal do estudo impede conclusões sobre relações causais entre yoga, mindfulness, evitação e ansiedade;
2. A amostra pode não ser considerada representativa, visto que a maioria eram praticantes de uma mesma modalidade de yoga (Ashtanga), e pela maioria dos participantes terem sido recrutados por amostragem por conveniência.
3. Além disso, os respondentes que participaram do estudo, por estarem muito comprometidos com a prática de yoga, podem ter sido mais inclinados a participarem, favorecendo o resultado observado;
4. Os pesquisadores apontam como limitação o fato de não terem sido coletados dados sobre a história psiquiátrica pré-existente dos participantes.