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Opinião de profissionais de saúde sobre Práticas Integrativas e Complementares.

Mariana Ladeira de Azevedo

21 de Junho de 2018

Qual a opinião dos profissionais da saúde sobre as práticas integrativas e complementares? O quanto eles as conhecem e o quanto as recomendam para condições de saúde, como dor crônica?

 

Estas são perguntas que um levantamento realizado no centro hospitalar universitário Vaudois (CHUV) em Lausanne, na Suíça, procurou responder. A pesquisa aconteceu em outubro de 2013 e perguntou aos quase cinco mil profissionais médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e parteiros sobre sua opinião a respeito de diversas práticas complementares, bem como sua disposição em recomendar tais práticas para o alívio de dor crônica em pacientes.

 

Segundo os pesquisadores, o manejo da dor crônica é desafiador e alguns pacientes relatam dificuldades relativas aos tratamentos tradicionais – como medicamentos. Complementarmente, o estudo anterior de Harald Breivik e autores, realizado em 2006, indicou que 64% das pessoas que tomam medicação prescrita por médicos relatou ineficácia para controlar a dor. Logo, a busca por alternativas seria uma forma de complementar os tratamentos convencionais de alívio da dor crônica, além de reduzir a incidência de efeitos colaterais gerada pelos remédios.

 

Algumas práticas complementares, como osteopatia e acupuntura, já são bem difundidas quanto a sua aplicação no alívio da dor. Além destas, o levantamento questionou a opinião sobre hipnose, musicoterapia, biofeedback, yoga, meditação, reflexologia, mindfulness (especificamente o protocolo MBSR – Mindfulness-based Stress Reduction, ou Redução do Estresse com Base em Mindfulness), neuroterapia, fitoterapia, aromaterapia, homeopatia, naturopatia, arteterapia, medicina tradicional chinesa, tai chi, reiki, medicina ayurvédica e medicina antroposófica.

 

No Brasil, as chamadas práticas integrativas e complementares (PIC) de saúde têm sua implementação nos sistemas nacionais de saúde incentivada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) desde 2002. Esta é uma tendência alinhada à concepção de saúde integral, proposta pela OMS, que consiste num estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas na mera ausência de doença ou enfermidade. Neste sentido, a OMS divulgou diretrizes de implementação mundial das PIC com escopo de atuação previsto para até 2023 (WHO, 2013).

 

Consonante com as diretrizes da OMS, em 2006 o Governo Brasileiro, através do Ministério da Saúde, implementou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (SUS), que prevê a oferta de tais práticas à população, sendo atualizada pela Portaria GM Nº 702, de 21 de maço de 2018.

 

No centro hospitalar de Lausanne, os pesquisadores quiseram averiguar de que forma as PIC eram conhecidas e o seu potencial de recomendação para dor crônica. A pesquisa foi motivada por evidências de que as opiniões e as atitudes dos profissionais de saúde a respeito de um tratamento específico influencia os resultados de tais tratamentos nos pacientes. O levantamento foi realizado por pesquisa online enviada a todos os profissionais, havendo retorno de 1.247 respondentes, dos quais a maioria eram enfermeiros (71%), seguidos de médicos (20%), fisioterapeutas (5%) e parteiras (3%); 1% não informou sua profissão.

 

Como resultado, 96,1% dos profissionais recomendaria alguma PIC para o tratamento de dor crônica, sendo que enfermeiros e parteiras relataram maior aplicabilidade do que médicos. Além disso, as mulheres têm uma opinião mais positiva do que os homens. As PIC com maior preferência para aplicação à dor crônica foram hipnose, osteopatia e acupuntura. Estas também se configuraram como as PIC que os profissionais tinham mais familiaridade em termos de conhecimento. Por outro lado, as técnicas com as quais os profissionais possuíam menor familiaridade (biofeedback, mindfulness – MBSR e neuroterapia) eram as menos recomendadas, apesar de evidências favoráveis quanto a sua aplicação no alívio da dor. Isto sugere que há uma associação entre o conhecimento que o profissional possui sobre alguma PIC e a disposição em recomendar esta mesma prática, coincidindo com evidências de outro estudo já apresentado neste site de divulgação científica (vide texto "Você indica o que não pratica? A relação entre prática e recomendação de mindfulness", acesse clicando aqui).

 

Além disso, 84,3% dos profissionais considera que carecem de conhecimento para poderem informar seus pacientes sobre as PIC e 44,2% considera difícil ou muito difícil encontrar fontes de informação confiáveis sobre estas práticas. Do total de profissionais, 15,8% (196) possuía alguma capacitação em PIC, sendo a maioria em reflexologia, aromaterapia, massagem e hipnose. Ao passarem por uma capacitação formal, os profissionais declaram ter mais conhecimento para informar seus pacientes, reforçando a relação entre conhecimento e atitude positiva, entendida como disposição em recomendar.

 

Em suma, a maioria dos profissionais de saúde daquele hospital universitário acredita que algumas modalidades de PIC deveriam ser oferecidas aos pacientes e recomendariam PIC se estiverem disponíveis. Os profissionais de saúde não se opõem ao uso de PIC para manejo de dor crônica, mas consideram que não possuem conhecimento ou treinamento adequado para discutir sobre PIC com seus pacientes.

Para refletir...

Implicações

Considerando que o manejo de dor crônica requer uma abordagem biopsicossocial, a pesquisa reforça o potencial de integração das PIC numa equipe multidisciplinar, de forma a oferecer complementos ao tratamento dos pacientes com tal condição.

 

Para o centro hospitalar em questão, o levantamento poderia subsidiar a decisão sobre quais PIC incluir ou oferecer no serviço aos pacientes.

 

Esta pesquisa também evidencia a necessidade de tornar o conhecimento científico sobre PIC mais acessível aos profissionais de saúde, quem sabe por meio de workshops e palestras.

 

Por fim, esta pesquisa soma evidências a outros estudos de atitudes e conhecimentos sobre PIC, os quais relacionam conhecimento de uma prática e sua aplicação ou recomendação aos pacientes. Isso reforça a necessidade de se oferecer capacitação qualificada e oportunidades de prática adequadas aos profissionais da saúde, para que eles se sintam seguros e providos de informações que subsidiem a administração e/ou recomendação das técnicas.

Limitações da pesquisa

Algumas limitações devem ser consideradas:


1. A pesquisa foi realizada apenas num hospital, podendo não refletir as atitudes de profissionais de saúde em outros centros médicos e em outros países;

 

2. Como a participação era voluntária, pode ter havido um viés de autosseleção, gerando resultados falso-positivo, embora o estudo tenha tentado contornar esta situação divulgando no convite que aquela “era uma ótima oportunidade para expressar sua opinião sobre as PIC”.

 

3. Trata-se de uma pesquisa geral de atitudes sobre PIC, mas não houve espaço para identificar e descrever qualitativamente o conteúdo dos conhecimentos que os profissionais diziam ter sobre cada tipo de prática.

Materiais Complementares

Clique aqui para assistir o vídeo e disponibilizado pela TV Saúde – Ministério da Saúde (2018) explicando o que são as Práticas Integrativas e Complementares, com depoimentos de clientes/usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).

Clique aqui para acessar o Glossário Temático das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, atualizado (2018) e disponibilizado pelo Ministério da Saúde, contendo imagens e descrição das práticas oferecidas, além de outros termos em Saúde.

Estas práticas estão disponíveis no SUS para todos. Informe-se e usufrua dos benefícios, é seu direito!

Para conhecer outros materiais complementares, clique aqui!

Como citar este texto:

 

Azevedo, M. L. (2018). Opinião de profissionais de saúde sobre Práticas Integrativas e Complementares (Website Alfabetização Científica em Psicologia). Recuperado de: http://alfabetizacaopsico.wixsite.com/home/materia-a

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Referências:

O artigo The Attitudes of Physicians, Nurses, Physical Therapists, and Midwives Toward Complementary Medicine for Chronic Pain: A Survey at an Academic Hospital. de Aveni e colaboradores (2016) pode ser lido na revista Explore: The Journal of Science and Healing clicando aqui.

 

O artigo Survey of chronic pain in Europe: Prevalence, impact on daily life, and treatment de Breivik e colaboradores (2006) pode ser lido na revista European Journal of Pain clicando aqui. 

Portaria n° 702, de 21 de março de 2018: atualiza o serviço especializado 134 Práticas Integrativas e Complementares na tabela de serviços do Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde. (2018). Acesse clicando aqui. 

 

World Health Organization (Org.). (2013). WHO traditional medicine strategy. 2014-2023. Genebra: World Health Organization.

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