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Você indica o que não pratica?

A relação entre prática e recomendação de mindfulness.

Mariana Ladeira Azevedo

15 de Maio de 2018

Se você conhece uma atividade que promove benefícios, qual a probabilidade de você recomendá-la para um amigo, familiar ou cliente?

 

Mindfulness, ou atenção plena, é um conjunto de técnicas que podem ser utilizadas isoladamente ou em forma de protocolos de intervenção, cujos benefícios potenciais incluem a promoção do bem-estar psicológico e o manejo do estresse.  Também configura uma prática de fácil aplicação, baixo custo e elevada compreensão por parte de seus praticantes.

 

Um relatório da Mental Health Foundation, realizado em 2010 com médicos da saúde pública no Reino Unido, indicou que 72% considera algum protocolo clínico de mindfulness aplicável para transtornos de humor e 52% acredita que este tipo de programa é útil para tratar pacientes com depressão. Contudo, a maioria (69%) nunca ou raramente recomendou protocolos de mindfulness para seus pacientes. Ou seja: apesar de se conhecer os benefícios de uma determinada prática, por que não se recomendaria tal atividade a outras pessoas?

Sob outra perspectiva, um estudo australiano realizado no mesmo ano demonstrou que psicoterapeutas que participaram e praticaram o programa de mindfulness ao longo de 8 semanas, ao final, apresentaram atitudes mais positivas e estavam significativamente mais dispostos a recomendar o protocolo do que antes de iniciar o treinamento. Isso sugere que existe uma relação positiva entre a prática pessoal e a disposição em indicar ou recomendar uma atividade para outras pessoas. Logo, realizar práticas saudáveis pode estar mais relacionado com a sua recomendação do que apenas conhecer sobre tal prática.

 

Para avaliar essa possibilidade, um estudo quasi-experimental em parceria com duas universidades australianas pesquisou se existe uma relação entre conhecimento, prática e atitude em relação ao mindfulness, ou atenção plena, em alunos de medicina e psicologia. Mesmo conhecendo os benefícios da utilização deste tipo de técnica, eles buscaram descobrir se alunos que praticaram e não praticaram mindfulness teriam a mesma probabilidade de recomendar ou aplicar mindfulness em seus futuros pacientes.

 

Na pesquisa, 171 alunos de psicologia e medicina das Universidades Monash e Deakin responderam a um questionário com perguntas de conhecimento conceitual e atitudes a respeito de mindfulness, referindo-se a atitudes como uma disposição em recomendar ou aplicar aos futuros pacientes. Do total de alunos, 91 estudantes de medicina participaram de um programa de promoção da saúde com conteúdos e práticas de mindfulness antes de responder ao questionário.

Como resultado, os pesquisadores identificaram que havia uma diferença significativa no conhecimento técnico e conceitual de mindfulness entre estudantes que praticaram e estudantes que não praticaram o programa. Além disso, também foi constatada uma maior probabilidade dos estudantes que praticaram mindfulness ministrarem ou recomendarem esta prática aos seus futuros pacientes do que os estudantes que não participaram do programa de mindfulness. Também foi identificada uma correlação positiva entre conhecimento sobre e disposição em recomendar ou ministrar mindfulness, sugerindo que quanto mais conhecimento se tem sobre a prática, maior é a probabilidade de recomendá-la ou aplicá-la.

 

Em suma, parece haver uma relação positiva importante entre a experiência de prática pessoal e a probabilidade de recomentar ou ministrar tal prática a outras pessoas. Além disso, a experiência pessoal da prática também proporciona mais conhecimento conceitual sobre ela, o que reforça ainda mais a probabilidade de recomendá-la.

Para refletir...

Implicações

Este é um dos poucos estudos de conhecimentos, atitudes e práticas de mindfulness em profissionais ou estudantes da área da saúde.


O estudo oferece evidência empírica à uma suposição intuitiva de que deter conhecimento sobre práticas de saúde está relacionado à aplicação e uso das mesmas e, em particular, do mindfulness. Além disso, a pesquisa demonstra o potencial dos programas educativos (i.e. ofertados à população universitária ainda em formação), uma vez que a diferença na disposição em recomendar esta técnica entre alunos com e sem exposição ao programa foi significativa.

 

Se mais estudantes das áreas da saúde fossem educados (entendendo educação como treinamento ativo) em mindfulness, é provável que desenvolvessem uma atitude mais positiva sobre essa intervenção, além de o treinamento proporcionar acréscimos no seu autocuidado e ampliar suas habilidades clínicas.

Limitações da pesquisa

Algumas limitações devem ser consideradas:


1. Participantes foram recrutados de universidades diferentes, o que poderia contribuir para as diferenças encontras nos resultados entre os grupos.

2. Como a participação na pesquisa era voluntária, os estudantes que apresentavam uma atitude positiva em relação ao mindfulness poderiam ser aqueles mais propensos a responderem o questionário e ser mais favoráveis ao mindfulness, representando um viés de atitude. Isso seria corrigido com a participação de mais pessoas.

3. Foi utilizado um modelo de programa de mindfulness desenvolvido pelos próprios pesquisadores da Universidade Monash. Sugere-se a replicação do estudo com protocolos de referência, como o Mindfulness-based Stress Reduction (MBSR), Mindfulness-based Cognitive Therapy (MBCT) e Mindfulness-based Relapse Prevention (MBRP), por exemplo, para comparação dos resultados e obtenção de maior validade interna e externa.

Materiais Complementares

Que tal conhecer e praticar o programa de mindfulness da Monash University – uma das universidades que promoveu esta pesquisa?

 

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Conheça, pratique e, quem sabe, recomende mindfulness!

Para conhecer outros materiais complementares, clique aqui!

Como citar este texto:

 

Azevedo, M. L. (2018). Você indica o que não pratica? A relação entre prática e recomendação de mindfulness (Website Alfabetização Científica em Psicologia). Recuperado de: http://alfabetizacaopsico.wixsite.com/home/materia-6-meditacao-mindfulness

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Referências:

O artigo Medical and Psychology Students’ Knowledge of and Attitudes Towards Mindfulness as a Clinical Intervention, de McKenzie, Hassed & Gear (2012), pode ser lido na revista Explore clicando aqui. 

Mental Health Foundation. (2010). Mindfulness Report. London: Mental Health Foundation.

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