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Meditação e a resposta reflexa: nem tão reflexo assim.

Carolina B. Menezes

2016, 21 de Abril

Quando você ouve um barulho súbito e muito alto, o que acontece? Exato, você leva um susto, ou seja, você tem uma série de reações primárias, fisiológicas, que geram uma resposta emocional ao susto: seu coração dispara, você sua nas mãos, seus músculos contraem, e assim por diante. Além disso, você apresenta reações secundárias, tal como um sentimento de medo, ou raiva, ou surpresa, entre outros. Toda esta situação caracteriza o que no inglês se chama de startle, uma resposta reflexa e primitiva, que parece impossível de controlar. Um estudo realizado no Departamento de Psicologia, na Universidade da Califórnia, Berkeley, mostrou que a meditação pode ajudar a controlar este reflexo.

Esta pesquisa, a qual foi publicada em 2012, na revista Emotion, demonstrou que enquanto um praticante medita, ele pode controlar as reações automáticas do startle, considerado um tipo de resposta emocional oriunda de regiões bastante primitivas do sistema nervoso central. Segundo os autores, este resultado indica que a meditação também poderia influenciar respostas emocionais mais complexas, tal como as diversas condições de estresse da vida moderna, caracterizando este tipo de prática como uma forma de regular as emoções.

O estudo, o qual utilizou um delineamento de estudo de caso, investigou um praticante, monge budista, com 40 anos de experiência. O startle foi gerado através de um som abrupto, muito alto, que era emitido em fones de ouvido enquanto o praticante encontrava-se em quatro situações distintas: 1) fazendo a meditação do monitoramento aberto; 2) fazendo a meditação da atenção focada; 3) fazendo uma tarefa de distração – pensar em detalhes sobre um incidente do passado; e 4) em um momento livre, sem aviso prévio da emissão do som.

Através da avaliação das respostas cardíaca (intervalo entre batimentos), vascular (amplitude da pulsação no dedo), eletrodérmica (condutância da pele), atividade somática geral e expressões faciais, observou-se que apenas durante os dois tipos de meditação houve uma redução significativa destas, ou seja, o reflexo foi menor. Para os pesquisadores, é importante salientar que quando solicita-se que as pessoas que participam deste tipo de experimento inibam sua reação ao startle, o resultado é geralmente o contrário, os participantes apresentam um aumento das reações fisiológicas. Dessa forma, o padrão fisiológico observado durante a meditação demonstra, segundo os autores, que o praticante não buscou inibir sua reação, mas soube trabalhar a sua mente e o seu foco atencional, de forma a não ser tão influenciado pelo startle.

O grupo de pesquisa também chama atenção para a diferença observada entre as condições de meditação e de distração. Eles acreditam que este dado evidencia que a meditação envolve um treino mental que vai além da simples alocação da atenção, tal como é feito na distração.

Portanto, o estudo indica que a meditação ajuda a desenvolver um controle mental que pode ser benéfico para a modulação de respostas emocionais, até mesmo aquelas consideradas primitivas e reflexas. Não obstante, tendo em vista o delineamento utilizado, os autores destacam que os dados são limitados com relação à sua generalização e que estudos com mais praticantes, com variados tempos de experiência, são necessários para replicar este achado.

Como citar este texto:

 

Menezes, C. B. (2016, 21 de Abril). Meditação e a resposta reflexa: nem tão reflexa assim (Website Alfabetização Científica em Psicologia). Recuperado de http://alfabetizacaopsico.wix.com/home#!blank-3/arma0

Referência:

 

O artigo Meditation and the startle response: A case study (doi: 10.1037/a0027472), de Robert W. Levenson e outros, pode ser lido na íntegra clicando aqui!

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