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Controle emocional na pré-adolescência: de que forma podemos contribuir?

Victória Niebuhr Loos

06 de Junho de 2017

Você já se perguntou o que é regulação emocional e qual a sua importância na pré-adolescência? Ou de que forma pais, familiares e amigos podem auxiliar no controle emocional dos pré-adolescentes?

Um estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) procurou responder a estas questões. Em particular, teve como objetivo analisar a relação entre a regulação de emoções no pré-adolescente e a conversação familiar sobre emoções.

Primeiramente, as pesquisadoras do estudo explicam o que é regulação emocional:  habilidades e estratégias conscientes ou inconscientes, controladas ou automáticas, que servem para modular, inibir ou incitar a experiência emocional. Ou seja, por meio da regulação emocional controlamos a nossa resposta e reação a uma emoção, tanto aquela direcionada a nós mesmos, como a emoção direcionada a outra pessoa. Segundo a teoria de Gross, podemos regular nossas emoções por meio de diversas estratégias cognitivas, tal como distração (i.e., desviar a atenção da situação eliciadora da emoção), reavaliação cognitiva (tentativa de mudar o significado ou interpretação de uma emoção) e mudança da situação (agir sobre a situação geradora da emoção, de forma a evitá-la ou modificá-la).

A pré-adolescência é considerada a fase ideal para a realização de intervenções e políticas públicas relacionadas à juventude, visto que nesta idade os pré-adolescentes tendem a valorizar os conselhos e a escuta dos pais e professores mais do que a opinião de seus pares. Desta forma, o estudo justifica a importância de sua pesquisa afirmando que os exemplos dos pais e cuidadores, aliados à sua disponibilidade para a escuta e a conversação, favorecem o aprimoramento das habilidades de regulação emocional dos pré-adolescentes.

Para realizar este estudo, as autoras Lídia Macedo e Tânia Sperb dividiram os participantes em dois grupos: pré-adolescentes que conversam sempre com os pais em casa e os que não possuem esse costume.  O critério para a classificação dos grupos foi a resposta dos pré-adolescentes à questão de um questionário sobre comunicação familiar elaborado pelas autoras, o qual investigou se eles costumam contar em casa as coisas que acontecem em sua vida. O grupo que conversa sempre (G1) foi composto por 45 participantes que responderam “sempre” à questão, e o grupo dos que não costumam conversar (G2) foi constituído por 29 pré-adolescentes que responderam “raramente” ou “nunca”.

As autoras posteriormente aplicaram nos dois grupos um instrumento composto por duas histórias cujo final era aberto (não conhecido), e cujo conteúdo elucidava situações envolvendo emoções de raiva ou tristeza. Através deste instrumento buscou-se identificar as estratégias de regulação de emoções que os pré-adolescentes relatariam conforme o fim que dariam a cada história. A partir destas respostas, os grupos foram comparados quanto às estimativas da duração de cada emoção relatada e às estratégias escolhidas para regulá-las.

Os resultados encontrados sugeriram que houve semelhanças entre as estratégias de regulação emocional relatadas pelos pré–adolescentes de ambos os grupos. Por exemplo, para situações que potencialmente geraram tristeza, ambos preferiram utilizar a estratégia de distrair-se. O estudo também encontrou diferenças entre os grupos, mas apenas nas estratégias relacionadas à raiva. Nestas situações, os pré-adolescentes do grupo que conversa em casa sobre emoções preferiram utilizar métodos considerados mais elaborados de regulação emocional, tal como indicado pelo maior uso da reavaliação cognitiva.

Portanto, o hábito de conversar sobre emoções em casa parece favorecer que os pré-adolescentes consigam pensar de diferentes formas sobre as situações que geram raiva, buscando usar interpretações alternativas que auxiliem a diminuir este sentimento. Por fim, as autoras concluem que a conversação familiar sobre emoções pode contribuir para o desenvolvimento de habilidades diferenciadas para regular emoções, em particular um maior uso da reavaliação cognitiva. 

Para refletir...

Implicações

Os pais, mães e cuidadores são extremamente importantes na vida de suas crianças: eles constituem os exemplos e referências que a criança terá para todas as outras relações. Eles são os responsáveis por transmitir as primeiras informações e interpretações sobre o mundo, pois são as primeiras pessoas com quem a criança se relaciona. Segundo a perspectiva da parentalidade (Pluciennik, Lazzari & Chicaro, 2015) quanto mais os pais, mães e cuidadores participarem da vida de seus filhos, mais saudável será o desenvolvimento das crianças.

Desta forma, conversar em casa sobre emoções e experiências que envolvam emoções pode ter importância para o desenvolvimento dos filhos, pois os auxilia na compreensão de suas emoções e na forma com que lidam com elas (regulação emocional).

Durante a vida, mas principalmente até a pré-adolescência, os indivíduos ainda procuram por adultos para conversar e pedir ajuda. Estar disponível para ouvir e conversar, bem como demonstrar carinho e preocupação, pode contribuir para a formação do sujeito e para o fortalecimento de laços afetivos que perdurem até a adolescência e vida adulta.

Tendo em vista a importância destas conversas em família sobre emoções, novas políticas públicas podem ser elaboradas para incentivar o envolvimento parental na vida dos filhos. Também pode-se pensar na importância do psicólogo escolar neste contexto, pois o profissional atento às demandas emocionais dos pré-adolescentes e de seus familiares pode mobilizar em sua escola e comunidade programas preventivos que incentivem o hábito da conversação familiar.

Limitações da pesquisa

Algumas limitações devem ser consideradas:


1. O estudo não deixa claro qual é a definição de conversação familiar e nem especificam (ou quantificam) o que consideraram “pouca conversa” e “bastante conversa”. As autoras poderiam ter delimitado o grau de conversação com base em algum parâmetro, tal como número de vezes por semana. Sem conhecer este parâmetro, é difícil entender o que significa pouca ou muita conversa familiar. Esta é uma limitação importante, pois conversa familiar é uma das principais variáveis do estudo.

2. As características dos pré-adolescentes não foram descritas: será que são pré-adolescentes saudáveis ou há na amostra adolescentes com depressão, hiperatividade ou ansiedade? Tais características poderiam influenciar o resultado da pesquisa.

3. Do mesmo modo, não foi avaliado se os pré-adolescentes que utilizaram mais estratégias de reavaliação cognitiva para lidar com a raiva foram crianças que apresentaram mais desse sentimento durante a infância, exigindo que os pais e cuidadores usassem mais conversação sobre emoções. Caso esta hipótese se confirmasse, a interpretação do resultado da pesquisa poderia ser diferente.

Materiais Complementares

Filme: Divertida Mente (Disney, 2015)

Direção: Pete Docter

Elenco: Miá Mello, Otaviano Costa, Dani Calabresa

Gêneros: Animação, Comédia , Família

Classificação: a partir de 6 anos

Sinopse: Riley é uma garota de 11 anos, que deve enfrentar mudanças importantes em sua vida quando seus pais decidem deixar a sua cidade natal, no estado de Minnesota, para viver em San Francisco. Dentro do cérebro de Riley, convivem várias emoções diferentes, como a Alegria, o Medo, a Raiva, o Nojinho e a Tristeza. A líder deles é Alegria, que se esforça bastante para fazer com que a vida de Riley seja sempre feliz. Entretanto, uma confusão na sala de controle faz com que ela e Tristeza sejam expelidas para fora do local. Agora, elas precisam percorrer as várias ilhas existentes nos pensamentos de Riley para que possam retornar à sala de controle - e, enquanto isto não acontece, a vida da garota muda radicalmente.

Por que assistir: o filme contou com a contribuição de Paul Ekmann, (cientista que estuda as expressões faciais humanas) para criar um roteiro que representasse de um modo semelhante o funcionamento da mente humana, o surgimento das emoções e as estratégias para lidar com elas. Por meio do filme, pode-se ter uma ideia do que se passa na cabeça de um pré-adolescente, bem como a importância da presença de pais compreensivos e que falem sobre suas emoções e as dos filhos.

Para conhecer outros materiais complementares, clique aqui!

Como citar este texto:

 

Loos, V. N. (2017). Controle emocional na pré-adolescência: de que forma podemos contribuir? (Website Alfabetização Científica em Psicologia). Recuperado de: 

http://alfabetizacaopsico.wixsite.com/home/materia-3-3

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Referência:

O artigo Regulação de Emoções na Pré-Adolescência e Influência da Conversação Familiar, de Macedo & Sperb (2013), pode ser lido na revista Psicologia: Teoria e Pesquisa clicando aqui. 

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