Alfabetização Científica em Psicologia

Melhore sua senso-percepção: comece a praticar meditação!

Carolina B. Menezes

2016, 21 de Abril

Você gostaria de melhorar a forma com que percebe um estímulo, tal como um som? Se sua resposta é sim, segue uma boa notícia! Pode ser que através da meditação você consiga desenvolver uma melhor senso-percepção. Isto é o que mostra um estudo realizado no Centro de Ciências Comportamentais e Cognitivas, da Universidade de Allahabad, na Índia.

Publicada em 2007, na revista NeuroReport, esta pesquisa mostrou que através da prática da meditação concentrativa é possível aumentar a percepção de um estímulo sensorial, neste caso, um som. Segundo os autores ressaltam, a capacidade de detectar mudanças sensoriais no ambiente é extremamente relevante para o comportamento humano, assim como para o planejamento deste.

Os autores foram motivados pela seguinte lógica: sabe-se que os processos perceptivos variam conforme diferentes estados de consciência – sono, sonho, hipnose, entre outros -, e acredita-se que a meditação represente um destes diferentes estados de consciência. Sendo assim, como se relacionam percepção e meditação?

A fim de responder esta pergunta, o estudo comparou pessoas com uma experiência que variou de três a sete anos de meditação concentrativa – meditação sahaj – com participantes controles, isto é, sem experiência nenhuma na técnica, e pareados por idade, sexo e escolaridade.

Para avaliar a percepção, os autores utilizaram um paradigma chamado mismatch negativity (MMN). Este caracteriza-se como uma das ondas medidas pelos Potenciais Relacionados a Eventos, os quais constituem um tipo de mensuração da atividade elétrica do cérebro. Durante o paradigma do MMN, o participante é exposto a uma repetição de sons iguais e, em meio a esta sequência, um som destoante é apresentado algumas vezes. O MMN surge da detecção desta diferença.

Após a aplicação deste paradigma ao término da prática da meditação, ou ao término da condição controle, em que os participantes sem experiência apenas liam um livro, foi observado que o grupo da meditação apresentou uma amplitude do MMN significativamente maior do que o grupo controle. Conforme os autores explicam, quanto maior a amplitude, maior a reação ao estímulo. Dito em outras palavras, maior é a percepção, ou seja, a detecção da mudança do estímulo constante para o estímulo novo.

Os pesquisadores discutem que uma hipótese para este resultado é que o treino da atenção característico da prática meditativa pode ajudar a aumentar a sincronização da resposta da atividade neural cortical, ou seja, a eficiência com que as diferentes partes do cérebro se comunicam, a sua conectividade.

A conclusão do artigo é que mudanças perceptivas podem acontecer através do treinamento mental da meditação, sendo que este resultado demonstra a plasticidade de processos automáticos de orientação da atenção. Os autores apontam que estes processos estão muitas vezes prejudicados em condições clínicas como esquizofrenia, ou depressão, de forma que os dados ainda sugerem o potencial terapêutico da meditação.