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Você presta atenção por onde anda?

Lucas Martins do Nascimento

03 de Julho de 2016

Você já se deparou com a situação de ter dificuldade em lembrar um caminho recém percorrido? Ou talvez com algum episódio em que precisou seguir instruções de placas ou GPS e pouco desfrutou de seu percurso? Pensando em melhorar como prestamos atenção no ambiente ao nosso redor, uma pesquisa de 2016, publicada na revista Technology in Society, buscou demonstrar como uma simples estratégia pode incrementar nossa percepção de estímulos e reduzir os efeitos da atenção dividida.

 

Esta pesquisa foi motivada por dados demonstrando que sujeitos que caminham em um percurso com a possibilidade de fazer escolhas e decidir sobre as rotas de seu trajeto apresentam maior retenção de informações do ambiente em comparação ao sujeitos que precisam fazer escolhas de rotas. Estes estudos sugerem que a nossa atenção é mais estimulada quando temos a possibilidade de escolha e de tomada de decisão.

 

O artigo de Chung, Pagnini e Langer buscou replicar o experimento citado anteriormente a fim de testar a hipótese de que sujeitos com poder de escolha sobre seu percurso são mais engajados com os estímulos ambientais presentes no caminho, comparado às pessoas que seguem uma única orientação prévia de rota. Para isso, foram recrutados 60 turistas (42 homens) entre 12 e 67 anos, interessados em realizar uma excursão em um edifício.

 

Na primeira etapa do experimento, os sujeitos foram divididos em dois grupos. No grupo 1, as pessoas tiveram que tomar decisões quanto ao trajeto a ser percorrido no edifício, isto é, em determinados pontos do percurso elas deveriam escolher uma rota dentre duas opções possíveis. No segundo grupo, as pessoas deveriam percorrer o trajeto seguindo uma única orientação prévia, isto é, estas pessoas não tinham que escolher entre mais de um caminho possível.

 

Sem aviso prévio, a segunda etapa da experimentação requisitou que os grupos percorressem o prédio novamente a fim de encontrar 6 pontos (landmarks) específicos dispostos no trajeto. É interessante ressaltar que todos sujeitos passaram pelas landmarks, mas não tinham conhecimento que seriam desafiados a retornar para estas localidades.

 

Como resultado, os autores verificaram que o Grupo 1 cumpriu a segunda etapa em um tempo significativamente menor, tendo demonstrado maior habilidade para encontrar caminhos novos e mais rápidos para as landmarks, enquanto 10% do Grupo 2 falhou nesta etapa. Os resultados também mostraram que o Grupo 1 mostrou-se significativamente menos confuso, conforme indicado pela quantidade de paradas realizadas para se localizar, assim como pela avaliação de um observador externo. a qual baseaou-se em uma escala de 10 pontos para julgar o grau de confusão do participante.

 

Sendo assim, Chung, Pagnini e Langer concluíram que a possibilidade de escolher e tomar decisões sobre os percursos incrementou a experiência de exploração do ambiente e, consequentemente, a atenção alocada aos estímulos ambientais. Este estudo nos possibilita repensar as consequências da atenção dividida com smartfones e GPS, na medida em que estes recursos automatizam experiências que poderiam estar mais presentes em nosso cotidiano, como o caminho para casa/trabalho ou passeios.

Para refletir...

Implicações

Diante dos resultados da pesquisa, como podemos nos tornar mais presentes e ativos em diversas situações do dia-a-dia? O presente estudo demonstra que a simples estratégia de tomar escolhas conscientes enquanto percorremos nossos trajetos é capaz de incrementar significativamente nossas experiências  perceptivas do ambiente e seus estímulos.

 

Sendo assim, podemos inferir a aplicabilidade desse conhecimento para a qualidade da navegação em diversos contextos, como o trânsito, viagens e trajetos que percorremos diariamente. Um exercício interessante para conciliar com a estratégia citada anteriormente, é o direcionamento do foco para a visualização de pistas ambientais, orientando sua atenção para o momento presente.

Limitações da pesquisa

Algumas limitações devem ser consideradas:


1. Conforme foi reconhecido pelos autores do estudo, a amostra era pequena e pouco representativa. Portanto, o estudo precisa ser expandido para públicos mais diversificados, para que os resultados possam de fato ser generalizados

 

2. Na segunda etapa do experimento, a avaliação do critério de confusão foi realizada por um observador externo, por meio da contabilização de pausas na caminhada, em conjunto de uma escala de 10 pontos sobre o grau de confusão do participante observado.

Os autores poderiam ter especificado quais eram os parâmetros comportamentais que o observador deveria avaliar a fim de julgar o grau de confusão do participante. Outra alternativa para esta avaliação seria a implementação de uma escala respondida pelo próprio sujeito acerca de quão confuso sentiu-se ao realizar o trajeto.

 

3. Sendo a amostra composta por sujeitos entre 12 e 67 anos, há margem para questionarmos sobre a influência da variável "velocidade da caminhada" durante o percurso, visto a maior lentificação da mobilidade do público idoso. É importante reforçar que estas informações não foram especificadas no artigo.  

Como citar este texto:

 

Nascimento, L. M. (2016). Você presta atenção por onde anda? (Website Alfabetização Científica em Psicologia). Recuperado de: 

http://alfabetizacaopsico.wix.com/home#!blank-14/bfl76

Referência:

O artigo Mindful Navigation For Pedestrians: Improving Engagement With Augmented Reality, de Chung, Pagnini & Langer (2016), pode ser lido na revista Technology in Society clicando aqui. 

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