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Proteja-se contra o estresse

Lucas Martins do Nascimento

22 de Janeiro de 2017

É amplamente divulgado que os altos níveis de estresse influenciam negativamente nossa qualidade de vida. No entanto, um estudo da Universidade do Texas, dos autores de Frias e Whyne, publicado em 2015 na revista Aging & Mental Health, demonstrou que o traço mindfulness é um fator de proteção poderoso para diminuir a relação negativa entre estresse e qualidade de vida.

 

Este estudo partiu da concepção que fatores de proteção são recursos que podem aumentar nossa resistência aos efeitos do estresse ou a eventos negativos de vida. Os autores quiseram testar a hipótese de que o traço mindfulness pode ser um mecanismo de autorregulação capaz de atuar como um destes fatores de proteção, visto que o modo como reagimos aos eventos negativos de vida é mais importante para nossa saúde do que os próprios eventos.

 

A justificativa do interesse dos autores em investigar o construto mindfulness como um fator de proteção está em sua definição: mindfulness é um processo complexo e adaptativo que requer atenção ao momento presente, aliado à uma postura de não-julgamento e aceitação.

 

Neste contexto, foram formuladas três hipóteses principais:

  • Adultos que experienciaram maiores níveis de estresse possuem uma saúde relativamente pior.

  • O traço mindfulness deve interferir positivamente nos indicadores de saúde.

  • Quanto mais acentuado o traço mindfulness, menores são os índices de estresse e prejuízos à saúde.

Participaram da pesquisa um total de 134 idosos de uma colônia em Dallas (estado do Texas, EUA), sendo 93 mulheres e 41 homens, com idades entre 50 e 85 anos (M = 65.4). O nível médio de escolaridade era de 15.51 anos (SD = 2.62).

  

Este estudo teve um delineamento transversal, onde divulgação do experimento foi realizada com a distribuição de panfletos em centros públicos e bibliotecas, bem como boletins online. Por meio de entrevistas por telefone, os sujeitos que obtiveram os critérios iniciais (tal como a fluência com a língua inglesa) foram convidados à uma participação presencial na universidade, onde tiveram que se dirigir por conta própria. O protocolo teve duração de três horas contínuas, seguindo a mesma sequência de testagem para todos.

Antes das testagens centrais do estudo, os participantes responderam ao Mini-Exame do Estado Mental e ao Questionário Sobre a Saúde do Paciente, onde verificou-se que todos participantes relataram escores saudáveis em aspectos físicos e mentais, além de não apresentaram sintomas de depressão.

 

Na etapa seguinte, coletou-se informações com outros três instrumentos. Primeiramente aplicou-se o Estudo de Dados Médicos (Medical Outcomes Study) a fim de avaliar diversas informações sobre saúde física e mental, além de questões emocionais e papéis sociais. O segundo teste foi o Inventário de Estresse de Vida de Idosos (Elders Life Stress Inventory), que verificou o número de eventos estressantes vivenciados no último ano, tal como a morte de um cônjuge, divórcio, problemas de saúde, entre outros. Por fim, aplicou-se a Escala de Atenção Plena (Mindful Attention Awareness Scale) com objetivo de acessar e mensurar o traço mindfulness dos participantes.

 

As análises estatísticas destes dados foram separadas em três blocos. No primeiro bloco houveram correlações entre informações demográficas, como idade, gênero e escolaridade. O segundo bloco correlacionou a quantidade de eventos estressores de vida com o traço mindfulness. Por fim, o terceiro bloco verificou a interação das variáveis de eventos estressores e traço mindfulness.

 

Como resultado, os dados demográficos de gênero, idade e escolaridade não foram preditores de saúde física ou mental, bem como qualidade de vida. A quantidade de eventos estressores de vida demonstrou-se um preditor confiável para a qualidade de vida, e também confirmou uma correlação significativa com a saúde física e mental.

 

Outras análises apresentaram que maiores escores de mindfulness disposicional foi relacionado com melhor saúde mental. No mesmo sentido, o traço mindfulness moderou o efeito dos eventos estressores da vida na saúde mental, porém não física. Análises conseguintes demonstraram que a força da associação entre eventos estressores e saúde era mais forte em sujeitos com menores traços mindfulness, sugerindo que indivíduos mais conscientes (ou mindful em inglês) são menos afetados por estes eventos.

 

Em resumo, os achados foram consistentes com as hipóteses: os eventos estressores foram inversamente proporcionais aos escores de saúde física e mental, e o traço mindfulness teve efeito positivo na saúde mental. Justificando estes resultados, os autores afirmam o traço mindfulness está associado a habilidades cognitivas e emocionais importantes para o enfrentamento de eventos estressores de diversas naturezas (sociais, cognitivos, financeiros, entre outros). Deste modo, Indivíduos mais mindful são menos propensos a hábitos de ruminação, sugerindo que, quando submetidos a situações estressoras, estes possam regular sua atenção ao momento presente, otimizando a resolução de problemas e o bem-estar.

Para refletir...

Implicações

O combate ao estresse costuma ser intermediado pelo uso de remédios, especialmente para população da terceira idade, a qual é comumente associada ao uso de fármacos. Diante dos resultados desta pesquisa, pode-se pensar em estratégias de intervenções comportamentais e educativas que promovam o traço mindfulness e incrementem o bem-estar e a redução do estresse nesta população, complementando e potencializando o uso de remédios.

Limitações da pesquisa

Algumas limitações devem ser consideradas:


1. O estudo investigou e contabilizou eventos estressores pontuais de vida, porém há margem para verificar a influência do mindfulness em outras dimensões, como estressores em menor escala (aborrecimentos diários) ou estresse crônico (acontecimentos estressantes prolongados e contínuos).

2. Considerando que não haviam participantes com diagnóstico de depressão, e eram saudáveis de modo geral, os resultados não devem ser generalizados para toda população de idosos, pois não é possível afirmar que mindfulness pode proteger dos efeitos do estresse em idosos acometidos por algum problema.

 

3. Os efeitos do mindfulness na saúde física foram mínimos e, portanto, devem ser investigados em outras pesquisas com idosos com limitações físicas. Todos os participantes da pesquisa precisaram se dirigir à universidade, de modo que a amostra não incluiu sujeitos com impossibilidade de deslocamento.

Materiais Complementares

Vídeo: Meditação para reduzir o estresse

Kelly Lemos realiza trabalhos que buscam transformar a dor em alívio, usando nada além do corpo e da mente dos clientes. Neste vídeo, ela explica sobre a importância do estresse em nossas vidas, assim como seus prejuízos à saúde quando o vivenciamos em excesso. Em complemento, Kelly cita alguns estudos que demonstram a eficácia de breves intervenções meditativas para a promoção de bem estar e combate ao estresse em diversos contextos. Por fim, há instruções sobre breves exercícios de relaxamento e meditação que podemos aplicar no dia a dia para nos mantermos mais atentos ao presente e diminuir o estresse. 

Para conhecer outros materiais complementares, clique aqui!

Como citar este texto:

 

Nascimento, L. M. (2017). Você presta atenção no seu coração? (Website Alfabetização Científica em Psicologia). Recuperado de: 

http://alfabetizacaopsico.wixsite.com/home/materia-2-5

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Referência:

O artigo Stress on health-related quality of life in older adults: the protective nature of mildfulness, de Frias & Whyne (2015), pode ser lido na revista Aging & Mental Health clicando aqui. 

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