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A consciência plena e o olhar sobre as emoções

Bruna Larissa Kluge

1 de Outubro de 2016

Você sente dificuldade em se expressar emocionalmente, ou mesmo perceber as emoções de outras pessoas? Como andam suas habilidades sociais? Essas perguntas não são fáceis de serem respondidas, especialmente se apresentamos características alexitímicas e déficits em nossas habilidades sociais.

A alexitimia é a incapacidade que uma pessoa possui de identificar as próprias emoções e de expressá-las verbalmente para outras pessoas. Os sujeitos que possuem características alexitímicas não conseguem utilizar as emoções para guiar seus comportamentos e, com isso, podem tornar-se intolerantes a situações estressantes. Além do mais, torna-se difícil para esses sujeitos identificarem as emoções nas outras pessoas. Por consequência, sua rede de apoio pode ser significativamente reduzida. Além disso, esses sujeitos são mais suscetíveis a guardarem para si seus sentimentos, sendo, por vezes, afetados por sintomas psicossomáticos.

O que fazer quando você possui essa incapacidade? Um estudo da Universidade de Almeria, na Espanha, de 2010, intitulado: “Efeitos de um programa de meditação (mindfulness) na medida da alexitimia e das habilidades sociais” demonstrou que é possível reduzir a alexítimia sem medicação, e como o nome do artigo sugere, praticar meditação pode ser uma alternativa. A meditação é uma prática de origem oriental que, nos últimos anos, tem sido usada como técnica terapêutica com a finalidade de melhorar a autorregulação das emoções e aumentar a atenção e a consciência no momento presente. O termo mindfulness não possui uma tradução específica no português, mas podemos traduzi-lo como consciência plena ou atenção plena. No contexto das Terapias Cognitivas, o uso de mindfulness vem caracterizando as chamadas Terapias de Terceira Geração.

O estudo teve por objetivo verificar os efeitos de treinamento de meditação (mindfulness) em habilidades sociais e nos níveis de alexítimia. Para isso, contou-se com a colaboração de 46 estudantes da Universidade de Almería, com idade média de 23,47 anos, distribuídos em dois grupos: um grupo experimental, com 24 sujeitos (20 mulheres e 4 homens) e um grupo controle, com 22 sujeitos (19 mulheres e 3 homens). A distribuição das pessoas aos grupos não foi aleatória, visto a necessidade de equilibrar o baixo número de homens nos dois grupos.

Para comprovação de suas hipóteses, o estudo utilizou dois instrumentos de análise: a Escala de Habilidades Sociais e a Escala de Alexitimia de Toronto (TAS-20). Essas escalas têm por interesse medir, dependendo de seus fatores, as variáveis determinantes dos déficits nas habilidades sociais e as características alexitímicas dos participantes. Esses instrumentos foram utilizados antes e depois da intervenção em ambos os grupos. A análise dos instrumentos pré-teste (antes da intervenção com meditação) indicou que não existiam diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos, em seus níveis de alexitimia e nas habilidades sociais. Após dez sessões semanais do treino de mindfulness as medidas pós-teste evidenciaram mudanças no grupo experimental, comparado ao grupo controle.

O estudo mostrou que os sujeitos do grupo experimental mostraram uma maior mudança significativa nas facetas “expressividade de desacordo ou de aborrecimento”; na “defesa de seus direitos como consumidor” e nas suas habilidades sociais como um todo. Estes participantes também apresentaram mudanças significativas, mas menores, em seu “estilo de pensamento”, que anteriormente estava voltado para o exterior; na “auto-expressão em situações sociais gerais”; na “habilidade de dizer não e de interromper interações sociais”; na “habilidade de fazer pedidos” e em “iniciar interações positivas com o sexo oposto”. Por último, o estudo mostrou mudanças na capacidade de identificar sentimentos e saber diferenciá-los de outras sensações corporais, bem como também nos níveis gerais de alexitimia.

Por conseguinte, este estudo nos permite pensar na relação e nos benefícios emocionais que o treino de mindfulness pode nos proporcionar em um pequeno período de tempo. Para as pessoas com dificuldades de habilidades sociais e características alexítimicas, estes benefícios podem favorecer o acesso a uma rede genuína de apoio social.

Para refletir...

Implicações

O treino de mindfulness pode ser utilizado em diferentes ambientes como um instrumento terapêutico. A utilização em um contexto educacional, como foi descrito na pesquisa, colabora na percepção emocional, bem como na regulação emocional e na dinamicidade das interações sociais. Além disso, é um treino que pode ser estendido para diversos ambientes, como em hospitais; com crianças e também na clínica psicológica, com o intuito de ajudar na maior conscientização das ações do momento presente.

O estudo foi realizado na Espanha, e são pouquíssimos os estudos encontrados sobre mindfulness no Brasil. Esse estudo pode servir de base, ou de comparação para estudos futuros feitos no Brasil.

Limitações da pesquisa

Existem inúmeros fatores que podem contribuir com a mudança nos valores das variáveis de alexitimia e de habilidades sociais, como o próprio ambiente em que foi administrada a intervenção. O ambiente coletivo proporcionado poderia ser um dos fatores que ajuda a possibilitar uma melhora nos níveis apresentados. Por este motivo é importante que também seja incluído um grupo controle ativo, com alguma atividade similar.

Materiais Complementares

Clicando aqui, você terá acesso a um artigo, cujo autor Daniel Gisé nos apresenta suas tirinhas "Zazen", para ilustrações do livro: "Mente Zen, Mente de Principiante" - Shunryu Suzuki. O Zazen é uma prática de desapego ao corpo e a mente, sem limitar conceitos e regras para a meditação. Praticando isso, nos desprenderíamos dos resultados, e observaríamos o processo de meditação como um todo, ou seja, focado no momento de relaxamento e de concentração. Para colocar isso em prática, existe o projeto "O lugar". Este projeto é para quem já está cansado de ler sobre meditação, e não saber como praticar os ensinamentos. É um espaço online, no qual as pessoas compartilham um trabalho de transformação. Para conhecer este projeto, clique aqui. 

 

 

Para conhecer outros materiais complementares, clique aqui!

Como citar este texto:

 

Kluge, B. L. (2016). A consciência plena e o olhar sobre as emoções (Website Alfabetização Científica em Psicologia). Recuperado de: 

http://alfabetizacaopsico.wixsite.com/home/materia-1-7

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Referência:

O artigo Efectos de un programa de meditación (mindfulness) en la medida de la alexitimia y las habilidades sociales, de Arias e colaboradores (2010), pode ser lido na revista Psicothema  clicando aqui. 

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